Caixa alta ou letra cursiva?
O uso da letra cursiva no
processo de alfabetização é realmente importante? Pelo capital cultural e experiência
que possuem, talvez a maioria dos professores brasileiros diriam que sim, que a
letra cursiva é sinônimo de ensino avançado, e que alfabetizar com caixa alta é um atraso.
Mas recorrendo a fatos históricos e estudando o sistema educacional de países
desenvolvidos, pode-se provar o contrário, ou seja, que não convém alfabetizar
usando a escrita cursiva.
Quando
a escrita foi inventada, os símbolos eram escritos de forma separada e não emendadas,
como na caligrafia cursiva. Analisando antigos escritos gregos e romanos é
perceptível que as letras usadas são separadas, como na escrita de caixa alta. Quando
surgiu no Império Romano a letra cursiva era pouco popular e era utilizada por
pessoas que já dominavam a leitura e escrita.
“A antiga cursiva romana ou capitular cursiva, era um tipo de escrita especializado que se aprendia no segundo nível do sistema de ensino romano, frente à capitular que se ensinava no nível elementar. Era, portanto, uma modalidade gráfica característica de determinados profissionais ou de pessoas que superaram os níveis mais elementares da educação romana. (http://pt.wikipedia.org/wiki/ Escrita_cursiva_romana)
Em um de seus artigos, a
professora de pós-graduação em Metodologia de Língua Portuguesa, Linguística e
Literatura infantil, Letramento e Práticas Alfabetizadoras, Sandra Bozza,
afirma que:
“Somente nas trevas da Idade Média é que se criou um recurso para evitar que o conhecimento registrado através da escrita fosse amplamente disseminado. Esse recurso foi a criação de um código secreto que garantisse que somente a nobreza e o clero tivesse acesso ao que foi produzido pela humanidade até então. Esse código nada mais é do que a letra cursiva. Excessivamente rebuscada em seu nascimento (vide a carta de Pero Vaz de Caminha), foi se simplificando até chegar aos nossos dias e se estabelecer como critério de aprovação (ou não) para crianças com seis, sete ou oito anos de idade.”( SANDRA BOZZA, 2011)
Atualmente, países
desenvolvidos, com sistemas educacionais muito a frente da precária escola
pública brasileira, tem dado importância bem menor à escrita cursiva do que a
veneração que ocorre aqui. Nos Estados Unidos a letra cursiva é introduzida a
partir do 3º ano do Ensino Fundamental, e mais, seu ensino não é obrigatório
nas escolas. Dos 50 estados do país, 40 já aboliram o uso da escrita cursiva. O
argumento é simples: todos os gêneros textuais difundidos na sociedade são
publicados em letra de forma. Além disso, o computador e outros instrumentos
usados para aquisição e distribuição do conhecimento também não usam letra
cursiva.
Analisando a história da
humanidade e as tendências educacionais dos países desenvolvidos, parece bem
claro que alfabetizar usando letra cursiva é um enorme equívoco. É tornar ainda
mais difícil a aquisição da língua escrita, fazendo a criança se preocupar com
um traçado difícil, além da primordial preocupação de estruturar o pensamento
através do sistema de representação escrito. A letra cursiva não precisa
ser desprezada ou esquecida, mas é notório que deve ser apresentada ao aluno
apenas quando ele já sabe:
“para que serve a escrita (função social); o que ela representa (relação de dependência entre a oralidade e a escrita); como ela se organiza (os conteúdos básicos para veiculação de idéias por escrito). Logo, teremos tornado prática a teoria aventada por Vygotysky, quanto afirma que o ato de escrever é bem maior do que o desenvolvimento de habilidades de mão e dedos.” (SANDRA BOZZA, 2011)
REFERÊNCIAS
Bozza, Sandra. Questão de
relevância: por que caixa alta? Curitiba; 19/07/2011. Disponível em: http://www.sandrabozza.com.br/?p=476
Wikipedia, a
enciclopédia livre.
Escrita cursiva Romana. Disponível em: http://www.sandrabozza.com.br/?p=476
Franca,
Johanna Cordeiro Melo. Letra bastão,
caixa alta ou de imprensa maiúscula é a ideal durante o processo de
alfabetização. Belo
Horizonte; 08/02/2014. Disponível em: http://johannaterapeutaocupacional.blogspot.
com.br/2014/02/letra-bastao-caixa-alta-ou-de-imprensa.html
Carvalho, Ricardo. Revista Carta
Capital; Estados americanos abolem escrita à mão nas escolas; 25/07/2011.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/novos-tempo
Deliberato, Roberta. Jornal Gazeta do
Povo; Letra cursiva, usos, tradição e ensino; 01/09/2011. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?id=
1164561
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